Página Inicial > Cultura > Literatura > Prêmio Sesc de Literatura > Literatura nacional renovada com três novos talentos
Reconhecido como uma importante porta de entrada para o mercado editorial, o Prêmio Sesc de Literatura trouxe nessa edição, além de escritores estreantes nas categorias Romance e Conto, um novo autor em Poesia. A estreia do gênero literário no projeto fez com que o número de inscrições quase duplicasse – 2.731 obras inscritas, sendo 1.427 livros de poesia, 656 de contos e 648 romances – comprovando a demanda do mercado.
O romance Bololô: gaiola vazia, de Ricardo Mauricio Gonzaga (ES); a coletânea de contos A glória dos corpos menores, de Patrícia Lima (SP), e o livro de poesias Contra a parede, de Antonio Veloso Maia (RJ), foram os vencedores este ano.
Conversamos com os premiados para conhecer um pouco mais de suas obras e trajetórias literárias:
Ricardo Mauricio Gonzaga – Professor do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) há 22 anos, o carioca Ricardo Maurício divide seu tempo entre Rio de Janeiro e Vitória. Aos 66 anos, ele traz no currículo uma vasta experiência em Artes, com ênfase em Artes Plásticas, atuando em temas como imagem, corpo, tempo, performance, arte pública e processos da criação. É também ator e já escreveu para teatro. Na literatura, sua incursão inicial foi com contos. “Fui finalista duas vezes do Prêmio Sesc de Literatura na categoria Conto. Em 2022 publiquei a coletânea Sobrenome Perigo por meio de um edital da Secretaria de Cultura do Espírito Santo. O romance Bololô – gaiola vazia nasceu a partir do primeiro conto desse livro”, conta o autor.
Bololô – gaiola vazia é uma narrativa intensa e envolvente que acompanha a vida de Roque Perigo e seus irmãos. Um relato visceral sobre uma família lidando com traumas e a luta para encontrar sentido em meio à dor e à violência. “É um romance diferente, que tem um lado de realismo imaginário e uma linguagem sucinta, herdada do conto”, explica. Sobre a conquista, é categórico: “Sem dúvida, é uma oportunidade inigualável. Porque você até pode publicar um livro por uma editora, mas ganhar o Prêmio Sesc dá um destaque de ser ‘o livro de romance’”, concluiu.
Patricia Lima – Formada em Letras e funcionária da Unesp de Bauru, Patricia Lima, 38 anos, já é uma antiga conhecida do universo literário. É autora do livro de poesias O amor é um solo de jazz, publicado pela Editora Patuá, e coordena um clube de leitura chamado Cevadas Literárias, que leva o debate sobre obras literárias para os bares da cidade. A autora que gosta de passar o tempo com seus gatos Frida e Bento, conheceu o Prêmio Sesc de Literatura com o livro de “Réveillon e outros dias”, de Rafael Gallo, em 2012. “Desde então minha lista de admirações só cresceu, incluindo nomes como Juliana Leite, Tobias Carvalho, Marta Barcellos e Tônio Caetano”.
“A glória dos corpos menores” é um livro de 11 contos que perpassam temas como envelhecimento, solidão, pessoas em situação de invisibilidade e/ou apenas sujeitos vivendo experiências extremas no silêncio de sua humanidade. “Há tópicos como suicídio, feminicídio e o desejo na velhice, mas estes não são o foco central – o verdadeiro fundamento reside nos personagens e em sua complexa relação com a existência”, descreve. E se emociona ao falar da conquista: “Receber a notícia de que meu livro foi premiado foi um momento inesquecível.
Chorei no pátio entre os Departamentos da Unesp (onde trabalho), completamente extasiada por saber que meu livro foi lido e reconhecido por pessoas tão qualificadas”, contou. “Na minha opinião, o Prêmio Sesc é o mais relevante para autores estreantes no Brasil. Sua estrutura é impecável, com o envolvimento de profissionais altamente qualificados e experientes em literatura e divulgação. Oferece a oportunidade de publicação e garante circulação pelo Brasil para a divulgação. Ou seja, aproxima o escritor do seu objetivo principal: a palavra. O que mais um escritor pode querer?”.
Antonio Veloso Maia – Um leitor, um cinéfilo, avô de Julia e Junior. É dessa forma que o servidor público da Prefeitura do Rio de Janeiro Antonio Veloso Maia se descreve. Mas do alto de seus 73 anos, ele tem muitas outras histórias para contar. Nascido em São Fidélis, no Norte fluminense, ele viveu os anos 1990 no Ceará. Lá participou de vários concursos literários promovidos no estado. Conheceu o Prêmio Sesc de Literatura ainda nos primeiros anos do projeto e tem em sua biblioteca o premiado A secretária de Borges, de Lucia Bettencourt. Mas essa foi a primeira vez que participou do concurso. “Tinha visto o resultado, com mais de 1,4 mil inscritos e pensei: caramba, é muita coisa. Estar entre os 20 finalistas já era um retorno legal”, pensou, antes de saber que iria mais além, se tornando o primeiro vencedor na categoria Poesia.
Antonio também surpreende na maneira de escrever. Contra a Parede é uma coleção de poemas que explora temas de introspecção, linguagem e o desconforto existencial. A obra desafia as convenções poéticas e ortográficas, apresentando uma linguagem que dialoga com referências literárias e culturais variadas, enquanto expressa uma profunda reflexão sobre a vida, a arte e as limitações da linguagem. Convida o leitor a uma leitura atenta e reflexiva, desafiando-o a confrontar as “paredes” que limitam a compreensão e a expressão.
A avaliação final do Prêmio Sesc de Literaura ficou por conta de uma comissão especializada formada pelos escritores Luis Antonio Assis Brasil, Socorro Acioli, Cidinha da Silva, Veronica Stigger, Ana Martins Marques e Bruna Beber. “Participar desse júri foi, antes de tudo, tomar contato com um painel da literatura brasileira de nossos dias, com seus múltiplos temas, sua diversidade cultural e, sim, constatei que estamos muito bem, que nossa literatura pulsa mais do que nunca”, declarou Assis Brasil, um dos responsáveis pela seleção do romande Bololô – gaiola vazia, que classificou como ‘um belíssimo achado’.
Jurada na categoria Conto, a escritora Verônica Stigger teve sentimento semelhante em relação ao livro A glória dos corpos menores. “É um livro que pega o leitor. Patrícia Lima mostra que sabe narrar ao prender nossa atenção, ao nos fazer ver as coisas a partir de um ponto de vista não usual, ao deixar, muitas vezes, os finais em suspensão”, conclui.
A poeta Ana Martins Marques, jurada na categoria Poesia, assinalou a importância de premiações destinadas a novos escritores. “Acho muito importante a existência de premiações voltadas para autores estreantes, que abrem oportunidades para pessoas que nunca publicaram. Minha própria trajetória pública como poeta começou com uma premiação voltada para autores inéditos”, contou. Sobre o livro vencedor Contra a parede ela ressalta suas “muitas referências literárias com um trabalho de linguagem próximo da montagem, explorando a sonoridade das palavras, o corte do verso e o espaço da página para tratar da memória”.
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